ESTÊVÃO, O PRIMEIRO MÁRTIR
"Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa" (Mt 5.11).
O sangue dos mártires é a semente plantada, que resultou em crescimento e expansão da Igreja. Como disse Tertuliano "O sangue dos mártires é a semente dos cristãos."
A perseguição, apesar de sua procedência maligna: é permitida por Deus, para um determinado propósito. Às vezes, nós nos acomodamos em uma situação confortável e descuidamos da evangelização. Então, vem uma grande luta, para que possamos nos despertar.
A vontade de Jesus era a evangelização do mundo, a partir de Jerusalém. Em seguida, Judéia, Samaria, até os confins da Terra. A cidade santa foi evangelizada de casa em casa, e os discípulos não perceberam que não tinham mais o que fazer. Por isso, veio a perseguição, para que fizessem cumprir os desígnios divinos.
Estêvão, um dos sete diáconos, revelou-se como um exímio evangelista. Revestido do poder de Deus, pregava o Evangelho em Jerusalém, e suscitou a inveja dos judeus religiosos, que o acusaram de inimigo do Templo. Por isso, injustamente, condenaram-no à morte.
Estêvão pregou sobre o Templo, a Lei e Jesus Cristo. Seu martírio contribuiu para a expansão da Igreja. Essa lição mostra como ele se defendeu das acusações, de maneira sutil e inteligente.
ESTÊVÃO DIANTE DO SINÉDRIO
1. Atividade de Estêvão. Estêvão é apresentado com destaque entre os sete diáconos escolhidos para servir às viúvas: "Elegeram Estêvão, homem cheio de fé, e do Espírito Santo" (At 6.5). Seu nome é grego, Stephanos, e significa "coroa". Logo cedo, manifestou-se, destacando-se entre seus companheiros, atuando na obra de Deus, com fé, graça, sabedoria e poder sobrenatural do Espírito Santo (At 6.8,10). Obviamente, fazia a sua parte na função diaconal e sobrava tempo para a pregação. Ele se preocupava com as almas e o Espírito Santo o ajudava.
2. Perseguição. Não demorou muito, Estêvão tornou-se alvo da sinagoga, como Cristo já havia advertido aos apóstolos (Mc 13.9-11). Ele foi acusado de blasfêmia pelos judeus helenistas, pois não puderam resistir a sua mensagem inspirada (At 6.9-14). Disseram que estava profanando o Templo e a Lei de Moisés (At 6.13). Mas, para isso, subornaram falsas testemunhas contra ele, para consubstanciar a acusação diante do Sinédrio (At 6.11,12). Eles fizeram também o mesmo com Jesus (Mt 26.59-61).
3. O Templo. A ligação dos judeus com o Templo não era tanto pela sua estrutura e nem pela sua beleza arquitetônica, mas pelo fato de Deus ter garantido nele o seu nome (2 Cr 7.16). Isso pode ser visto em vários salmos (27.4; 122.8).
4. Jesus e o Templo. Jesus afirmou ser maior que o Templo (Mt 12.6). Disse também que o seu corpo seria destruído, mas em três dias Ele mesmo o reconstruiria (Jo 19.22). Por causa disso, as falsas testemunhas o acusaram diante de Caifás (Mt 26.61).
O ensino de Cristo era que os verdadeiros adorares buscariam a Deus em qualquer lugar, não meramente no Templo e nem em Jerusalém (Jo 4.21).
5. A Lei. Os judeus, até hoje, definem a Lei como a "expressão máxima da vontade de Deus". Jesus disse que não veio destruí-la, mas fazê-la cumprir (Mt 5.17,18). Os judeus não entendiam o espírito da Lei e estavam dispostos a matar ou morrer por ela. Não compreendiam o verdadeiro papel da mesma, como o apóstolo Paulo mostrou posteriormente (Rm 3.19,20; Gl 3.24).
ANÁLISE DO DISCURSO DE ESTÊVÃO
1. O discurso. O discurso de Estêvão era a sua defesa das duas acusações dos judeus. Ele sabia que já estava sentenciado antes mesmo do julgamento e nada, senão uma ação divina podia mudar essa situação e livrá-lo da atitude fanática daqueles religiosos. O cenário estava armado, testemunhas haviam sido subornadas para deporem contra ele. Sabendo que as acusações eram falsas, de nada valia, nessa circunstância, procurar se defender. Aproveitou para apresentar a defesa em forma de pregação da Palavra de Deus.
Estêvão passou em revista a história do povo de Israel. O seu discurso está dividido em quatro períodos históricos, com os seus respectivos líderes: dos patriarcas: Abraão (7.2-8); peregrinação no Egito: José (7.9-19); Êxodo: Moisés (7.20-44); monarquia: Davi e Salomão (45-50).
2. Período patriarcal. Os versículos 2 a 8 falam da chamada de Abraão e da promessa que Deus lhe fez. A citação do Antigo Testamento é da Septuaginta. Os versículos 2 e 3 lançam luz sobre Gênesis 11.26 e 12.4.
Estêvão afirma que Deus apareceu a Abraão primeiramente em Ur e depois em Harã, e não como parece à primeira vista em Gênesis 12.1-4. Essa sua declaração é confirmada no Antigo Testamento (Gn 15.7; Ne 9.7). Ainda declara que o nosso patriarca partiu de Harã, depois da morte de seu pai (7.4). É claro que ninguém vai presumir um nascimento de trigêmeos, quando Tera estava com setenta anos (Gn 11.26).
Muitos entendem que Abraão não foi o primogênito, mas o caçula dos três filhos de Tera, e houve um intervalo de sessenta anos entre o seu nascimento e o do mais velho. Isso significa que o nosso patriarca foi gerado quando seu pai estava com cento e trinta anos de idade, como está registrado no Pentateuco Samaritano.
3. Peregrinação no Egito (At 7.9-19). Estêvão faz um sumário da peregrinação de Israel, começando com a venda de José, pelos seus irmãos, aos ismaelitas, que o negociaram em um mercado de escravos do Egito, sua ascensão a governador dos egípcios, o período de fome e a ida de seus familiares a esse país, em busca de mantimento. Inclui em seu discurso a descida de Jacó e sua família para as terras do Nilo e a mudança de dinastia, após a morte desses patriarcas, que resultou na escravidão dos hebreus, época em que nasceu Moisés, que chegou a ser príncipe da casa de Faraó.
4. Êxodo e peregrinação no deserto (At 7.20-44). Estêvão afirma que Moisés tinha consciência de sua identidade e vocação. Sabia que era hebreu e seria o libertador de seu povo, mas não tinha noção do tempo de Deus para iniciar a sua tarefa. Por isso, fracassou na sua primeira tentativa e foi obrigado a fugir para Midiã.
a. Moisés em Midiã (At 7.30-34). É o relato resumido da experiência que Moisés teve com Deus na sarça ardente, depois de apascentar, durante quarenta anos, o rebanho de seu sogro.
b. Moisés, o libertador de Israel (At 7.35-43). Este ponto da mensagem mostra que Estêvão começa a "atar" as pontas do discurso: Jesus fora enviado como Senhor e Salvador do seu povo. Ele realizou sinais, prodígios e maravilhas, e continuava a fazê-los, através de seus discípulos. Isso está explícito no versículo 38, quando cita Deuteronômio 18.15-18, a mesma estratégia usada por Pedro (At 3.22,23). Critica duramente a idolatria do povo, a começar pelo bezerro de ouro aos cultos a Moloque, resultando no cativeiro babilônico.
5. Monarquia (At 7.45-50). Quanto à questão do Templo, o "santo lugar" (6.13), Estêvão apresenta a sua defesa.
Quando ele fala da mudança do Tabernáculo para o Templo (7.45-47), não estava sendo apático a este, como interpretam alguns expositores, mas associa ambos às grandes colunas do judaísmo: Moisés e Josué, Davi e Salomão. Reconhecia a santidade da Casa de Deus, mas estava mostrando uma verdade que eles desconheciam.
O Tabernáculo era portátil, o símbolo da presença de Deus no meio do povo, e representava Cristo e a sua obra (Hb 9.2-9). Ao citar o desejo de Davi, de construir uma casa para Deus, não outra tenda, mas um templo, o que realmente aconteceu nos primeiros anos do reinado de Salomão, ele disse: "O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens" (At 7.48), referência indireta do Antigo Testamento (1 Rs 8.27; 2 Cr 2.6). A citação do versículo 49 é a de Isaías 66.1,2.
POR ESSA OS JUDEUS NÃO ESPERAVAM
1. "Dura cerviz" (v. 51). Expressão usada pelos profetas (2 Cr 30.8; Jr 17.23) e significa "coração duro". Embora fossem circuncidados, contudo, eram incircuncisos de coração e ouvidos. Era também a exortação dos profetas contra os desobedientes (Jr 6.10; Ez 44.7).
2. Matadores dos profetas (v 52). Seus pais mataram os profetas. As Escrituras apresentam diversos casos dos que foram assassinados em Jerusalém. Os juízes do Sinédrio e os acusadores de Estêvão eram piores que seus antepassados, pois foram traidores e homicidas do Messias, daquele que foi anunciado pelos homens de Deus.
3. Desobedeceram à Lei (v. 53). Israel teve o privilégio de ser a nação escolhida por Deus (Êx 19.3-6). Os hebreus receberam a Lei, como disse Estêvão, "por ordenação dos anjos". Contudo, foram desobedientes.
O MARTÍRIO DE ESTÊVÃO
1. Fanatismo e ódio dos judeus (v. 54). Contra fatos não há argumentos. Os judeus perderam a razão e apelaram para a violência. Eles não puderam contestar a mensagem de Estêvão. Anteriormente, os membros da sinagoga viram que o rosto dele brilhava como o de um anjo. Nem assim conseguiram ver nisso a manifestação divina, pois eram, realmente, "homens de dura cerviz". Era hora de cada um refletir sobre a mensagem e refutá-la, se pudesse, ou reconhecer o erro e se converter. Salomão disse que quem rejeita a disciplina é um bruto (Pv 12.1).
2. Visão de Estêvão (vv. 55,56). Estêvão teve uma visão. Ele contemplou Jesus em pé, junto de Deus. Os evangelhos narram que Cristo assentou-se à direita do Pai.
O primeiro mártir da Igreja vê "o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus". Isso mostra que Jesus ficou em pé, para receber o seu servo, que lhe foi fiel até a morte (Ap 2.11).
3. Linchamento de Estêvão (vv. 57, 58). "Mas eles gritaram". O fanatismo era tanto que perderam a razão. E entraram em histeria total. A maneira como Lucas descreveu essa cena dá a entender que houve um linchamento popular. Roma havia caçado o direito de Israel aplicar a pena capital sobre os condenados. O texto nada fala da reação dos romanos e nem de um julgamento. É possível que Pilatos tenha feito "vista grossa".
4. Oração de Estêvão (vv. 59, 60). A morte de Estêvão é muito parecida com a de Jesus. Ambos fazem uma oração. Cristo roga ao Pai. O primeiro mártir do Cristianismo ao Filho.
Na oração de Jesus, um dos malfeitores se arrependeu, convertendo-se a Cristo. Na morte de Estêvão, com certeza, Saulo ouviu essa petição. A súplica do primeiro mártir do Cristianismo, diretamente ao Senhor Jesus, é uma prova irrefutável da deidade absoluta do Filho. "Tendo dito isto, adormeceu" (v. 60). Foi para os braços de seu Senhor, sendo fiel até a morte (Ap 2.11).
CONCLUINDO
A atitude de Estêvão e a maneira como foi martirizado inserem-se no contexto de Mateus 5.10-12. Ele, como muitos ao longo da história do Cristianismo, selaram sua fé com o próprio sangue. Hoje, a situação não é diferente. Em muitos países, nossos missionários são executados sumariamente, por causa do Evangelho. É tarefa da Igreja orar por estes heróis da fé, pois esta luta não é carnal, mas contra as hostes de Satanás. Mas a vitória é nossa, em nome de Jesus!
1. Satanás imaginava que, por intermédio da perseguição, pudesse impedir o crescimento da Igreja. Mas foi um puro engano seu. A morte de Estêvão fez com que muitas pessoas se convertessem ao Evangelho, inclusive, diversos judeus religiosos, pois observaram a convicção com que o primeiro mártir do Cristianismo entregou sua vida a Jesus.
2. Jesus declarou que se o grão de trigo não morrer, jamais produzirá frutos. A morte de Estêvão foi como uma boa semente plantada em uma excelente terra. O próprio apóstolo Paulo foi influenciado por este martírio, pois como uma das testemunhas, consentiu com aquele apedrejamento e jamais se esqueceu daquele jovem tão convicto de sua salvação.
3. Satanás hoje mudou de tática, pois sabe que a perseguição traz o crescimento da igreja. Adotou o comodismo como a fórmula ideal para impedir o desenvolvimento da obra de Deus e tem alcançado o seu objetivo. No princípio da Assembleia de Deus no Brasil, por ela ter sido perseguida, crescia muito mais do que na atualidade.
Bibliografia E. Soares
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Deus te abençõe sempre !!