quarta-feira, 10 de outubro de 2018

ESTÊVÃO, O PRIMEIRO MÁRTIR

"Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e per­seguirem, e, mentindo, disse­rem todo o mal contra vós, por minha causa" (Mt 5.11).

O sangue dos mártires é a semente plantada, que resul­tou em crescimento e expan­são da Igreja. Como disse Tertuliano "O sangue dos mártires é a semente dos cristãos."

A perseguição, apesar de sua procedência maligna: é permitida por Deus, para um determinado propósito. Às vezes, nós nos acomodamos em uma situa­ção confortável e descuidamos da evangelização. Então, vem uma grande luta, para que possamos nos despertar.

A vontade de Jesus era a evangelização do mun­do, a partir de Jerusalém. Em segui­da, Judéia, Samaria, até os confins da Terra. A cidade santa foi evangelizada de casa em casa, e os discípu­los não perceberam que não tinham mais o que fazer. Por isso, veio a perseguição, para que fizessem cum­prir os desígnios divinos.

Estêvão, um dos sete diáconos, revelou-se como um exímio evangelista. Revestido do poder de Deus, pregava o Evange­lho em Jerusalém, e suscitou a inve­ja dos judeus religiosos, que o acu­saram de inimigo do Templo. Por isso, injustamente, condenaram-no à morte.

Estêvão pregou sobre o Templo, a Lei e Jesus Cristo. Seu martírio contribuiu para a expansão da Igre­ja. Essa lição mostra como ele se defendeu das acusações, de maneira sutil e inteligente.

ESTÊVÃO DIANTE DO SINÉDRIO

1. Atividade de Estêvão. Estê­vão é apresentado com destaque en­tre os sete diáconos escolhidos para servir às viúvas: "Elegeram Estêvão, homem cheio de fé, e do Espírito Santo" (At 6.5). Seu nome é grego, Stephanos, e significa "coroa". Logo cedo, manifestou-se, destacando-se entre seus companheiros, atuando na obra de Deus, com fé, graça, sabe­doria e poder sobrenatural do Espí­rito Santo (At 6.8,10). Obviamente, fazia a sua parte na função diaconal e sobrava tempo para a pregação. Ele se preocupava com as almas e o Es­pírito Santo o ajudava.

2. Perseguição. Não demorou muito, Estêvão tornou-se alvo da sinagoga, como Cristo já havia adver­tido aos apóstolos (Mc 13.9-11). Ele foi acusado de blasfêmia pelos ju­deus helenistas, pois não puderam resistir a sua mensagem inspirada (At 6.9-14). Disseram que estava profanando o Templo e a Lei de Moisés (At 6.13). Mas, para isso, subornaram falsas testemunhas con­tra ele, para consubstanciar a acusa­ção diante do Sinédrio (At 6.11,12). Eles fizeram também o mesmo com Jesus (Mt 26.59-61).

3. O Templo. A ligação dos ju­deus com o Templo não era tanto pela sua estrutura e nem pela sua beleza arquitetônica, mas pelo fato de Deus ter garantido nele o seu nome (2 Cr 7.16). Isso pode ser visto em vários salmos (27.4; 122.8).

4. Jesus e o Templo. Jesus afir­mou ser maior que o Templo (Mt 12.6). Disse também que o seu cor­po seria destruído, mas em três dias Ele mesmo o reconstruiria (Jo 19.22). Por causa disso, as falsas testemunhas o acusaram diante de Caifás (Mt 26.61).

O ensino de Cristo era que os verdadeiros adorares buscariam a Deus em qualquer lugar, não mera­mente no Templo e nem em Jerusa­lém (Jo 4.21).

5. A Lei. Os judeus, até hoje, definem a Lei como a "expressão máxima da vontade de Deus". Jesus disse que não veio destruí-la, mas fazê-la cumprir (Mt 5.17,18). Os ju­deus não entendiam o espírito da Lei e estavam dispostos a matar ou mor­rer por ela. Não compreendiam o verdadeiro papel da mesma, como o apóstolo Paulo mostrou posteriormente (Rm 3.19,20; Gl 3.24).

ANÁLISE DO DISCURSO DE ESTÊVÃO

1. O discurso. O discurso de Es­têvão era a sua defesa das duas acusações dos judeus. Ele sabia que já estava sentenciado antes mesmo do julgamento e nada, senão uma ação divina podia mudar essa situação e livrá-lo da atitude fanática daqueles religiosos. O cenário estava armado, testemunhas haviam sido subornadas para deporem contra ele. Sabendo que as acusações eram falsas, de nada valia, nessa circunstância, pro­curar se defender. Aproveitou para apresentar a defesa em forma de pre­gação da Palavra de Deus.

Estêvão passou em revista a his­tória do povo de Israel. O seu dis­curso está dividido em quatro perío­dos históricos, com os seus respectivos líderes: dos patriarcas: Abraão (7.2-8); peregrinação no Egito: José (7.9-19); Êxodo: Moisés (7.20-44); monarquia: Davi e Salomão (45-50).

2. Período patriarcal. Os ver­sículos 2 a 8 falam da chamada de Abraão e da promessa que Deus lhe fez. A citação do Antigo Testamen­to é da Septuaginta. Os versículos 2 e 3 lançam luz sobre Gênesis 11.26 e 12.4.
Estêvão afirma que Deus apare­ceu a Abraão primeiramente em Ur e depois em Harã, e não como pare­ce à primeira vista em Gênesis 12.1-4. Essa sua declaração é confirmada no Antigo Testamento (Gn 15.7; Ne 9.7). Ainda declara que o nosso pa­triarca partiu de Harã, depois da morte de seu pai (7.4). É claro que ninguém vai presumir um nascimento de trigêmeos, quando Tera estava com setenta anos (Gn 11.26).

Muitos entendem que Abraão não foi o primogênito, mas o caçula dos três filhos de Tera, e houve um intervalo de sessenta anos entre o seu nascimento e o do mais velho. Isso significa que o nosso patriarca foi gerado quando seu pai estava com cento e trinta anos de idade, como está registrado no Pentateuco Samaritano.

3. Peregrinação no Egito (At 7.9-19). Estêvão faz um sumário da peregrinação de Israel, começando com a venda de José, pelos seus irmãos, aos ismaelitas, que o negoci­aram em um mercado de escravos do Egito, sua ascensão a governador dos egípcios, o período de fome e a ida de seus familiares a esse país, em busca de mantimento. Inclui em seu discurso a descida de Jacó e sua fa­mília para as terras do Nilo e a mu­dança de dinastia, após a morte des­ses patriarcas, que resultou na escra­vidão dos hebreus, época em que nasceu Moisés, que chegou a ser príncipe da casa de Faraó.

4. Êxodo e peregrinação no de­serto (At 7.20-44). Estêvão afirma que Moisés tinha consciência de sua identidade e vocação. Sabia que era hebreu e seria o libertador de seu povo, mas não tinha noção do tem­po de Deus para iniciar a sua tarefa. Por isso, fracassou na sua primeira tentativa e foi obrigado a fugir para Midiã.

a. Moisés em Midiã (At 7.30-34). É o relato resumido da experiência que Moisés teve com Deus na sarça ardente, depois de apascentar, duran­te quarenta anos, o rebanho de seu sogro.

b. Moisés, o libertador de Israel (At 7.35-43). Este ponto da mensa­gem mostra que Estêvão começa a "atar" as pontas do discurso: Jesus fora enviado como Senhor e Salva­dor do seu povo. Ele realizou sinais, prodígios e maravilhas, e continua­va a fazê-los, através de seus discípulos. Isso está explícito no versículo 38, quando cita Deuteronômio 18.15-18, a mesma estratégia usada por Pedro (At 3.22,23). Critica duramen­te a idolatria do povo, a começar pelo bezerro de ouro aos cultos a Moloque, resultando no cativeiro babilônico.

5. Monarquia (At 7.45-50). Quanto à questão do Templo, o "san­to lugar" (6.13), Estêvão apresenta a sua defesa.

Quando ele fala da mudança do Tabernáculo para o Templo (7.45-47), não estava sendo apático a este, como interpretam alguns exposito­res, mas associa ambos às grandes colunas do judaísmo: Moisés e Josué, Davi e Salomão. Reconhecia a santidade da Casa de Deus, mas estava mostrando uma verdade que eles desconheciam.

O Tabernáculo era portátil, o símbolo da presença de Deus no meio do povo, e representava Cristo e a sua obra (Hb 9.2-9). Ao citar o desejo de Davi, de construir uma casa para Deus, não outra tenda, mas um templo, o que realmente aconte­ceu nos primeiros anos do reinado de Salomão, ele disse: "O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens" (At 7.48), referên­cia indireta do Antigo Testamento (1 Rs 8.27; 2 Cr 2.6). A citação do ver­sículo 49 é a de Isaías 66.1,2.

POR ESSA OS JUDEUS NÃO ESPERAVAM

1. "Dura cerviz" (v. 51). Ex­pressão usada pelos profetas (2 Cr 30.8; Jr 17.23) e significa "coração duro". Embora fossem circuncidados, contudo, eram incircuncisos de coração e ouvidos. Era também a exortação dos profetas contra os desobedientes (Jr 6.10; Ez 44.7).

2. Matadores dos profetas (v 52). Seus pais mataram os profetas. As Escrituras apresentam diversos casos dos que foram assassinados em Jerusalém. Os juízes do Sinédrio e os acusadores de Estêvão eram piores que seus antepassados, pois fo­ram traidores e homicidas do Messias, daquele que foi anunciado pe­los homens de Deus.

3. Desobedeceram à Lei (v. 53). Israel teve o privilégio de ser a na­ção escolhida por Deus (Êx 19.3-6). Os hebreus receberam a Lei, como disse Estêvão, "por ordenação dos anjos". Contudo, foram desobedientes.

O MARTÍRIO DE ESTÊVÃO

1. Fanatismo e ódio dos judeus (v. 54). Contra fatos não há argumentos. Os judeus perderam a razão e apelaram para a violência. Eles não puderam contestar a mensagem de Estêvão. Anteriormente, os membros da sinagoga viram que o rosto dele brilhava como o de um anjo. Nem assim conseguiram ver nisso a ma­nifestação divina, pois eram, realmente, "homens de dura cerviz". Era hora de cada um refletir sobre a men­sagem e refutá-la, se pudesse, ou re­conhecer o erro e se converter. Salomão disse que quem rejeita a disciplina é um bruto (Pv 12.1).

2. Visão de Estêvão (vv. 55,56). Estêvão teve uma visão. Ele contemplou Jesus em pé, junto de Deus. Os evangelhos narram que Cristo assen­tou-se à direita do Pai.

O primeiro mártir da Igreja vê "o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus". Isso mostra que Jesus ficou em pé, para receber o seu servo, que lhe foi fiel até a morte (Ap 2.11).

3. Linchamento de Estêvão (vv. 57, 58). "Mas eles gritaram". O fanatismo era tanto que perderam a razão. E entraram em histeria total. A maneira como Lucas descreveu essa cena dá a entender que houve um linchamento popular. Roma ha­via caçado o direito de Israel aplicar a pena capital sobre os condenados. O texto nada fala da reação dos romanos e nem de um julgamento. É possível que Pilatos tenha feito "vis­ta grossa".

4. Oração de Estêvão (vv. 59, 60). A morte de Estêvão é muito pa­recida com a de Jesus. Ambos fa­zem uma oração. Cristo roga ao Pai. O primeiro mártir do Cristianismo ao Filho.

Na oração de Jesus, um dos mal­feitores se arrependeu, convertendo-se a Cristo. Na morte de Estêvão, com certeza, Saulo ouviu essa petição. A súplica do primeiro mártir do Cristianismo, diretamente ao Se­nhor Jesus, é uma prova irrefutável da deidade absoluta do Filho. "Ten­do dito isto, adormeceu" (v. 60). Foi para os braços de seu Senhor, sendo fiel até a morte (Ap 2.11).

CONCLUINDO

A atitude de Estêvão e a maneira como foi martirizado inserem-se no contexto de Mateus 5.10-12. Ele, como muitos ao longo da história do Cristianismo, selaram sua fé com o próprio sangue. Hoje, a situação não é diferente. Em muitos países, nos­sos missionários são executados su­mariamente, por causa do Evange­lho. É tarefa da Igreja orar por estes heróis da fé, pois esta luta não é car­nal, mas contra as hostes de Satanás. Mas a vitória é nossa, em nome de Jesus!

1. Satanás imaginava que, por intermédio da perseguição, pudesse impedir o crescimento da Igreja. Mas foi um puro engano seu. A morte de Estêvão fez com que muitas pessoas se convertessem ao Evangelho, in­clusive, diversos judeus religiosos, pois observaram a convicção com que o primeiro mártir do Cristianis­mo entregou sua vida a Jesus.

2. Jesus declarou que se o grão de trigo não morrer, jamais produzi­rá frutos. A morte de Estêvão foi como uma boa semente plantada em uma excelente terra. O próprio após­tolo Paulo foi influenciado por este martírio, pois como uma das teste­munhas, consentiu com aquele apedrejamento e jamais se esqueceu da­quele jovem tão convicto de sua sal­vação.

3. Satanás hoje mudou de táti­ca, pois sabe que a perseguição traz o crescimento da igreja. Adotou o comodismo como a fórmula ideal para impedir o desenvolvimento da obra de Deus e tem alcançado o seu objetivo. No princípio da Assembleia de Deus no Brasil, por ela ter sido perseguida, crescia muito mais do que na atualidade.

Bibliografia E. Soares

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